Semanalmente a Escola de Música de Brasília oferece ao público em geral, e em especial aos seus alunos, uma série de pequenos concertos musicais onde é possível apreciar uma seleção musical eclética, refinada, bem executada e sempre atrativa, que consegue agregar no mesmo espaço físico crianças, jovens, adultos e idosos, todos com a mesma finalidade: ouvir música.
Tive a oportunidade de assistir a um desses concertos no Teatro de Câmara da escola, onde pude ouvir canções de bossa nova, smooth-jazz e jazz-fusion.
Apesar de receberem nomes ou conceitos diferentes, essas três vertentes musicais apresentam grandes afinidades, e suas diferenças são muito sutis. Se sentarmos pra ouvir esses estilos estaremos mergulhando em mundos distintos e com características bem marcantes. Se sentarmos para escutar quase não perceberemos suas diferenças. Senão, vejamos: para ouvir uma bossa-nova, principalmente para nós brasileiros, isso não é muito difícil, pois já estamos familiarizados com seu balanço, suingue, harmonia e jeito de cantar manso, que com certeza é facilmente executada quando a formação é apenas instrumental. Já o smooth-jazz é geralmente descrito como um gênero que usa, alguma improvisação, instrumentos tradicionalmente associados ao jazz e influências estilizadas do R&B, e também do funk e do pop. O jazz-fusion é um gênero musical que consiste na mistura do jazz com outros estilos, particularmente rock 'n roll, funk, rhythm and blues, música eletrônica e world music. Dá pra se dizer que entre smooth-jazz e jazz-fusion há pouca diferença conceitual, mas muita diferença quando sentamos pra ouvir.
Dentro da ideia de conceito que cabe a cada estilo, a grande diferença que pude notar foi que na música jazz-fusion a estrutura musical tomou rumos diferentes do esperado. Se na bossa-nova e no smooth-jazz foi possível “entrar” no tema, curtir o refrão, apreciar a improvisação, voltar ao tema e concluir, no jazz-fusion a única semelhança foi a existência de um improviso, mas que não voltava ao tema, nem ao refrão, a nem um lugar antes explorado. E sim, um novo motivo era apresentado, parecendo uma auto-estrada de mão única, com caminho apenas de ida.
Mesmo com execuções irretocáveis, tanto individuais quanto do grupo como um todo, foi possível perceber uma certa distância da maioria do público presente em relação aos estilos apresentados, no que diz respeito a compreender o que estava acontecendo musicalmente no palco. Essa constatação revela um problema cultural, mesmo para quem é estudante de música, muitas vezes imposto pelo mercado musical e pelos veículos de comunicação, que impedem que grandes massas tenham acesso a estilos de música menos populares e mais sofisticadas, o que na minha opinião, permitiria às pessoas desenvolver um senso crítico maior em relação a esta nobre arte e as faria analisar melhor o que pode valer a pena tirar dinheiro do bolso para levar pra casa ou comprar o ingresso para um show: música para escutar ou música para ouvir?
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